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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Dom João Braz no Vaticano


Dom João Braz de Aviz deixa Brasília para ocupar posto no Vaticano
   Por volta das 18h40 de 14 de dezembro do ano passado, uma terça-feira, tocou o telefone do então arcebispo de Brasília, dom João Braz de Aviz. Ele estava em casa, na Península dos Ministros, no Lago Sul. Do outro lado da linha, o cardeal Tarcisio Bertone, um dos homens de confiança do papa Bento XVI, tinha algo a dizer em nome do chefe da Igreja Católica em todo o mundo. O catarinense de 63 anos, que aos 11 entrou no seminário e há sete comandava a Arquidiocese da capital do país, estava sendo convidado para morar no Vaticano e atuar como um dos principais assessores do pontífice.

Dom João não teve escapatória. Aceitou, com o compromisso de não divulgar a novidade até o início de janeiro deste ano, quando a nomeação seria oficializada. Ontem, ele não precisou segurar emoção alguma. Ao celebrar por duas horas a última missa à frente da Igreja de Brasília, deixou transparecer a tristeza em deixar a cidade e a alegria em assumir um novo desafio. A Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida reuniu cerca de 3,5 mil pessoas, sentadas ou em pé. Do lado de fora, onde havia um telão, mais algumas centenas de fiéis acompanharam a cerimônia.

Com 10 minutos de atraso, o cortejo formado por mais de 100 seminaristas e padres começou a percorrer os aproximadamente 20m do tapete vermelho estendido no corredor central da nave. Às 9h45, a multidão avistou dom João, de mitra na cabeça e cajado nas mãos. Os aplausos se sobressaíram ao canto do coral. Máquinas fotográficas e celulares registravam o andar lento e os acenos do futuro prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, nome extenso dado ao setor pelo qual dom João será responsável (Veja Para saber mais).

Antes de subir ao presbitério, beijar o altar e iniciar a celebração, o arcebispo, que nunca se esquivou de assuntos políticos enquanto chefiou a Igreja do centro do poder, parou para cumprimentar as autoridades sentadas no primeiro banco. “Estou aqui como católico e admirador de dom João”, avisou o presidente do Congresso Nacional, José Sarney, acompanhado do senador Pedro Simon, membro da Ordem Terceira de São Francisco de Assis. O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, ao lado da mulher, Ilza, também participou do rito. “A marca de dom João é a sabedoria”, afirmou.

Política
Em sete anos, o arcebispo não hesitou em se aproximar dos políticos. Visitou o ex-governador José Roberto Arruda na prisão e, meses depois, em missa campal na Esplanada dos Ministérios, condenou com veemência a corrupção. Chegou a ser criticado por “opinar demais” sobre as polêmicas da cidade, mas a postura agradava à maioria dos religiosos. Em maio de 2010, conduziu o Congresso Eucarístico Nacional, um dos maiores eventos católicos já realizados no Brasil. Nos bastidores, há quem diga que a visibilidade conquistada no encontro influenciou no convite do santo padre.

Na manhã de ontem, dom João reconheceu ter sido “duro e explícito demais nas palavras” em alguns momentos. Disse que o fazia na intenção de “zelar por Brasília” e de ver a cidade conduzida por “homens íntegros”. No sermão de 18 minutos, não falou de política e evitou o tom de despedida. Preferiu comentar as leituras bíblicas da liturgia. Defendeu a unidade da Igreja e a fidelidade aos ensinamentos cristãos. Pediu firmeza e coerência aos católicos, aproveitou para condenar o adultério e alertou para as “trágicas consequências” dos divórcios para a integridade das famílias.

Depois de ouvi-lo, em silêncio, os fiéis o aplaudiram de pé. Dom João lacrimejou. Durante os cânticos, permaneceu sentado, de olhos fechados e mãos unidas. Foi para o meio do povo distribuir hóstias e, ao voltar, recebeu elogios de outros bispos e do representante do papa no Brasil, dom Lorenzo Baldisseri. Quando o rito terminou, já perto do meio-dia, ficou à disposição para abraçar e ser abraçado. Na próxima terça-feira, ele parte da cidade que aprendeu a amar rumo ao Vaticano. “Deixamos uma missão e ganhamos outra: nossa caminhada é assim, a vida é assim”, concluiu.

Frases de dom João

"Penso que às vezes fui um pouco duro e explícito demais nas palavras, mas sempre com a preocupação em zelar pela cidade e não na intenção de separar os bons dos maus”

Ontem, ao fim da última missa à frente da Igreja de Brasília

“A gente está saindo de uma crise muito dura. Já pensou sermos comandados por alguém indicado pelo governo federal? Mas, estamos aqui, com um governador eleito pelo povo. Podemos sair de uma situação de crise para uma de esperança”

Durante missa de posse do governador Agnelo Queiroz, em 1º de janeiro deste ano

“A Ficha Limpa é uma lei vitoriosa. Ela nos ajudou a impedir que políticos corruptos nos governem”

Durante missa em homenagem a Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro de 2010


Para saber mais

Coordenação-geral

A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica foi fundada pelo papa Sisto V, em 1586, e está ligada à Santa Sé, no Vaticano. Dom João foi nomeado prefeito da congregação em 4 de janeiro deste ano. Assumirá o cargo na próxima quarta-feira, sucedendo o cardeal esloveno Franc Rodé. O

ex-arcebispo de Brasília será um dos principais assessores da autoridade máxima da Igreja Católica, o papa Bento XVI. A função dele será coordenar todos os assuntos relacionados a padres, freiras e consagrados à vida religiosa do mundo inteiro. Se houver problemas envolvendo religiosos em qualquer país, ele poderá, por exemplo, ser enviado em nome do papa, com a meta de intermediar soluções.

Depoimentos de fiéis

“Dom João é um marco importante para a história de Brasília. Com seu trabalho ao longo destes sete anos, ele pode ter desagradado a alguns, mas conquistou quase todos. Deixou um legado de carinho para com o povo e de dedicação a serviço da Igreja.”

Cid Roberto, 57 anos, professor, morador da Asa Norte


“Ele foi um pastor de verdade. Dom João sabe falar sério, sem perder a mansidão e a serenidade. Sua simplicidade e sua preocupação com a Igreja comoveram todos nós. Ficamos orgulhosos em vê-lo próximo ao papa, mas estamos tristes em perdê-lo.”

Ozana Lopes, 53 anos, aposentada, moradora da Asa Norte


“Quem conhece dom João sabe que ele vive aquilo que prega. Com certeza, os jovens sentirão muita saudade dele. Perderemos a convivência com alguém que acreditamos ser exemplo. Dom João evangeliza com o olhar, com as palavras, faz tudo com muito carinho.”

Talita Berlim, 23 anos, psicóloga, moradora da Asa Sul

fonte: correioweb